O Que é RPG?

Ou: A Pergunta Mais Feita aos RPGistas desde 1974

 

Por Marcelo Sarsur,
Narrador e Jogador de RPG e
tradutor do Powergame


ÍNDICE:

  1. Introdução ao RPG
  2. História do RPG
  3. Elementos Básicos do RPG
  4. Sistemas de RPG
  5. RPG no Brasil e na Internet

1. Introdução ao RPG:

"O prédio parece calmo enquanto Sinapse e Cybertron se aproximavam. Os passos metálicos de Cybertron fazem muito barulho, por isso Sinapse sinaliza, ordenando que pare. Ela esgueira-se no muro, e lança um olhar para dentro da fortaleza dos terroristas que seqüestraram o Dr. Impossível. Há dois guardas bem-armados na porta do galpão, e Sinapse utiliza seus poderes de Comando Mental para rendê-los. Um dos guardas sucumbe, mas o outro dispara uma rajada de tiros de AK-47 contra a heroína. Nisso, o terrorista percebe uma sombra pairando sobre ele, e consegue ver tarde demais que Cybertron atirou contra ele. Sinapse teve um leve ferimento no braço, mas o caminho está livre para o resgate".

O RPG, sigla de Role-Playing Game (Jogo de Interpretação de Papéis), foi criado nos Estados Unidos em 1974. De lá para cá, muitos sistemas surgiram e foram cancelados, e vários outros ainda estão por aparecer ou retornar. O mundo do RPG é tão variado quanto as histórias que podem ser contadas com ele.

No RPG, que é um jogo como vários outros, temos 2 tipos de jogadores: os jogadores propriamente ditos, e o Mestre, um tipo especial de jogador. Essa divisão vai ser explicada no capítulo 3. Por enquanto, digamos que os jogadores guiam personagens, e o Mestre guia os personagens do Mestre. A ação do RPG ocorre quando o Mestre lança desafios para seus jogadores. Ao resolver os desafios propostos pelo Mestre, os jogadores percorrem um roteiro, ou aventura. Após o término da aventura, os personagens de cada jogador ganham recompensas pelo sucesso, ou mais problemas, se houver fracasso.

A ação do RPG, ao contrário dos jogos de computador ou videogames, ocorrem apenas na imaginação dos jogadores. Todas as ações são ditas em voz alta, para que todos os jogadores e o Mestre saiba o que está acontecendo. O Mestre analisa as ações e decide se elas exigem ou não jogadas de dados. Outra peculiaridade do RPG é a total ausência de vitoriosos, ou seja, ninguém ganha ou perde. O importante é a diversão. As disputas que ocorrem durante o jogo não devem ser fonte de inimizade ou rivalidade, mas de entrosamento e descoberta.

A melhor forma de aprender o RPG é conhecendo a mecânica do jogo. Veja o exemplo acima como ele poderia ter acontecido em uma sessão de jogo:

Lara (jogadora, interpreta a personagem Sinapse, uma telepata): "Como está o prédio?"
Marcelo (Mestre de jogo, responsável pelas descrições): "Parece tudo calmo do lado de fora. O resgate do Dr. Impossível está parecendo mais fácil do que vocês esperavam. E você, Fernando?"
Fernando (jogador, interpreta Cybertron, andróide construído pelo Dr. Impossível): "Eu estou andando rapidamente. Quero achar rápido o Doutor!"
Marcelo: "Lara, faça um teste de Raciocínio." (A jogadora pega 1 dado e rola. Ela tira um 5, e fica contente). "Bem, você conseguiu. Talvez os passos metálicos do Cybertron chamem mais atenção do que deveriam..."
Lara: "Eu sinalizo para ele parar com isso!"
Fernando: "Entendido, Sinapse." (Fernando fala as mesmas palavras que o personagem usa. Ele continua.) "E agora, colega Sinapse? Como faremos?"
Lara (falando por Sinapse): "Pode deixar. Eu posso derrubá-los com um disparo mental." (Lara fala ao Mestre): "Posso me esgueirar pelo muro e pegar os guardas de surpresa?"
Marcelo: "É claro, desde que você passe neste teste de Agilidade..."
Lara: "Eu vou conseguir... Eu vou conseguir..." (Ela rola 1 dado, e tira 2. Marcelo rola pelos guardas, e eles tiram 1 e 3. Um guarda será pego de surpresa, mas o outro não.)
"Ai, que droga!"
Marcelo: "Bem, pode atacar os guardas."
Lara (com raiva por ter errado a jogada, e falando em nome de sua personagem): "Agora chega, seus cretinos!"
(Lara rola 2 dados, o equivalente à seu Racicínio. Ela ganha o ataque, e rola 5 dados, o euqivalente ao Poder Controlar Mentes de Sinapse. Ela consegue um 27, tornando virtualmente impossível para um humano resistir a seu golpe mental. O guarda surpreendido rola apenas 2, e desmaia, quase em coma. O outro guarda atira, e consegue um 5.)
Marcelo: "Uma rajada de tiros de AK-47 corta o ar em sua direção, Lara. Role sua Agilidade."
Lara: "Eu estou azarada nos dados..." (Lara rola um 4, falhando na jogada. Mas a diferença foi pequena, e o Mestre julga que os tiros passaram de raspão no braço direito.)
Marcelo: "Você foi atingida. Fernando, você vai voar?"
Fernando: "Vou pegar o infeliz por cima!" (Fernando voa, rolando 12 em seu Poder Vôo. Ele também rola o ataque com seu Poder Laser, conseguindo um 8. O terrorista rola 1, e fracassa de modo crítico!)
Marcelo: "Bem, foi um tiro certeiro! Você derrubou o guarda."
Fernando (falando pelo personagem): "Você está estruturalmente bem, Sinapse?"
Lara: "Sim, estou. Acho que podemos entrar..."


Bem, se você não conseguiu ainda entender como o RPG é jogado, leia o Capítulo 3 e você verá como as siglas são fáceis de assimilar. Agora, uma pequena pausa para contar a história do RPG...


2. História do RPG:

Tudo começou em 1974, quando dois amigos, Gary Gygax e Dave Arneson, amantes dos jogos de estratégia (como WAR) e da fantasia medieval (O Senhor dos Anéis, Lendas de Camelot, etc.), criaram o Dungeons & Dragons (D&D), o primeiro RPG da história. Neste jogo, cada pessoa, ao invés de comandar um exército, comandava um só personagem, com habilidades especiais (os guerreiros eram bons lutadores, os magos lançavam magias, os sacerdotes curavam, etc.). Este jogo foi revolucionário em sua época, e logo a febre D&D estava criada. Muitos outros RPGs foram criados, alguns dentro da temática medieval, outros fora desta. A TSR, editora do D&D, reinava absoluta como grande editora. Era a aurora do RPG.

Ao mesmo tempo, os jogadores exigiam mais opções, mais realismo. Dentro da filosofia do realismo, surgiram jogos como o GURPS, da Steve Jackson Games, que valorizavam as regras pelo realismo que elas poderiam trazer. Logo, a nova tendência forçou o D&D a crescer, e várias caixas com regras adicionais eram lançadas. A TSR agrupou essas caixas e o D&D em um só conjunto de livros, e produziu o Advanced Dungeons & Dragons (AD&D), até hoje o RPG mais jogado do mundo. O mercado tornou-se cada vez mais competitivo, e várias pequenas editoras (como a Mayfair Games) surgiam e desapareciam, às vezes deixando bons títulos sem seqüência. Surge a FASA Corporation, que edita o RPG Shadowrun, misturando fantasia medieval à alta tecnologia. Os RPGs tornam-se cada vez mais jogos de interpretação, não jogos de interpretação.

Com a chegada da década de 90, surge Vampiro: a Máscara, criação máxima do autor de Ars Magica, Mark Rein-Hagen, e editado pela White Wolf. Primeiro título da série Storyteller, Vampiro valoriza uma interpretação quase, se não totalmente teatral, e surge uma nova tendência, a da interpretação acima das regras. Essa nova tendência influenciou os novos RPGs, como o Powergame e Dragonlance: the Fifth Age, da TSR. A mesma TSR, que parecia estar fadada a desaparecer, é comprada pela Wizards of the Coast, uma editora ascendente, editora do jogo de cards Magic: the Gathering, baseado em RPG, e ganha uma revitalização.

O mercado está mais competitivo que nunca, e as grandes editoras agora apostam no espaço em seus novos RPGs. Alternity, da TSR, em fase de lançamento, e Trinity, da White Wolf. Resta saber se a nova tendência vai agradar aos jogadores de RPG, que cada vez mais tornam-se um grupo maior.

Mas o RPG não está apenas restrito aos Estados Unidos. No Brasil muito foi feito e ainda está sendo feito para a divulgação e popularização do RPG. Os pioneiros autores de Tagmar, primeiro RPG nacional, publicado pela GSA, e O Desafio dos Bandeirantes, primeiro RPG de temática nacional, até hoje são lembrados pela coragem de iniciar no Brasil um hobby pouquíssimo divulgado. Temos ainda bons títulos nacionais, como Millenia, da GSA; Arkanun e Trevas, de Marcelo Del Debbio; e Defensores de Tóquio, Advanced Defensores de Tóquio e Invasão, de Marcelo Cassaro ("Paladino", editor da revista Dragão Brasil); e Monstros, de Arthur Vecchi. Temos também as traduções do AD&D, cancelado pela Abril Jovem; GURPS, Vampiro: a Máscara, Lobisomem: o Apocalipse, Mago: a Ascensão e Shadowrun, pela DEVIR Livraria; e a caixa do D&D, trazida pela Grow.


3. Elementos Básicos do RPG

Já sabemos que no RPG não existem perdedores ou vencedores. Sabemos também que não precisamos de monitores ou tabuleiros para jogar RPG. Sabemos que no RPG cada jogador comanda um personagem, uma "identidade de jogo", e que há um Mestre, que guia tudo o que não é personagem de um jogador, descreve o ambiente onde o jogo ocorre e é responsável pela trama da história na qual os jogadores vão agir. Mas afinal, o que eu preciso ter para jogar RPG?

  1. Um grupo de amigos
  2. Um Mestre
  3. Um Livro de Regras
  4. Um conjunto de dados
  5. Um cenário e uma trama

Cada um dos elementos é detalhado abaixo:

1. Um grupo de amigos: o RPG é um jogo impossível de ser jogado sozinho (à exceção dos livros da série Aventuras Fantásticas, teoricamente um "ramo" de RPG). O RPG convencional é jogado por no mínimo 2 pessoas (um jogador e um Mestre). O grupo será um time, ou pode não ter nenhuma ligação entre si, mas o trabalho de equipe é vital em alguns sistemas. Os jogadores usam PJs (personagens dos jogadores), ou também PdJ, PC, Personagem, entre outras denominações.

2. Um Mestre: é preciso que uma pessoa cuide dos detalhes do jogo, como os personagens que não são dos jogadores e das cenas a serem feitas. Um Mestre (ou Mestre de Jogo - MJ, Narrador, Dungeon Master - DM, Game Master - GM) é uma mistura de roteirista, diretor de teatro, cenógrafo e deus de vez em quando. Ele deve fazer histórias não muito fáceis (e cansativas), ou muito difíceis (e frustrantes). Você, que está lendo este texto e vai formar um grupo de RPG, certamente será o Mestre. Esta regra, porém, não é invariável: um dos seus amigos pode ser o Mestre, desde que ele saiba contar bem uma história, seja justo e tenha conhecimento das regras. Mais será dito sobre o Mestre à frente.

3. Um Livro de Regras: os RPGs também exigem materiais para serem jogados. Da mesma forma que um videogame não funciona sem seus circuitos, o RPG não pode ser jogado sem livros. No caso do Powergame, o livro é único, e pode ser copiado gratuitamente. Mas a maioria dos RPGs deve ser comprada e aprendida antes de iniciar-se uma história. Alguns RPGistas mais experientes dispensam os livros em nome da interpretação, um retorno às origens do hábito de contar histórias uns aos outros.

4. Um conjunto de dados: ou qualquer outro método utilizado no seu RPG para fazer jogadas aleatórias. Jogos como o AD&D utilizam um kit de 6 dados multifacetados (4, 6, 8, 10, 12 e 20 faces), comprados apenas em lojas especializadas. O RPG Dragonlance: the Fifth Age emprega cartas que acompanham a caixa, os jogos da série Storyteller utilizam apenas dados de 10 faces, e tanto o Powergame como o GURPS utilizam apenas dados comuns, de 6 faces.

5. Um cenário e uma trama: toda aventura (ou história) de RPG necessita de uma trama. Essa trama vai entreter os jogadores e fazer com que seus personagens enfrentem desafios, perigos e mistérios. Esta trama pode ser escrita pelo Mestre, ou ele deve mantê-la em mente, e os jogadores nunca devem saber sobre a trama, ou o espírito do jogo se perde. A trama também deve ocorrer em um cenário, que na maioria dos RPGs está descrito nos livros básicos. Se nem o cenário nem uma trama inicial estão descritos, certamente há suplementos que detalham estas partes (o GURPS foi escrito sem ambientação; a ambientação deve ser criada ou comprada nos suplementos apropriados).

Os personagens podem tanto ser criados pelos jogadores ou vir junto com a ambientação, como é o caso da PowerForce. As regras de criação de personagem são o centro das primeiras partes de um manual de RPG comum. Quanto mais únicos e adequados ao grupo forem os personagens, melhor. Os personagens normalmente possuem vários valores numéricos, como os atributos e outras características, que medem o quanto o personagem é bom em alguma coisa. Quando Sinapse rolou 5 dados, ela fez uma proeza acima dos seres humanos, já que o máximo que um ser humano pode possuir numericamente no Powergame é 2. Os números de um personagem são exigidos em testes, como a esquiva de Sinapse. Os dados correspondentes são rolados, e o Mestre decide os resultados, analisando os dados.

Há sempre os antagonistas, aqueles personagens controlados pelo Mestre, e que se opõem aos jogadores. Eles geram a maioria das tramas, sendo razões para testes de dados e grandes chances de interpretação. A interpretação dos antagonistas pelo Mestre faz com que alguns pensem que o Mestre joga contra os outros jogadores. Na verdade, o Mestre não está nem a favor nem contra, mas apenas guiando sua história. O Mestre fará o papel do vilão, mas também o do colega de time. O Mestre também deve, se assim desejar, salvar os personagens de situações arriscadas, mas nunca tornar a aventura fácil demais, ou ainda empenhar-se em matar os personagens de todos os jogadores. A morte de um personagem, se bem contada, pode tornar-se a história mais interessante de sua vida. Para ser Mestre, a criatividade, a justiça e a capacidade de improvisar devem falar mais alto.


4. Sistemas de RPG

Vários sistemas de RPG foram citados, e estão escritos em negrito em toda a página. Mais informações sobre os vários sistemas de jogo podem ser encontradas nesta página e nas páginas citadas em Links.


5. RPG no Brasil e na Internet

São raros os pontos onde comprar RPGs aqui no Brasil. Se você vive numa capital, é possível que sua cidade possua uma loja de RPG (São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Rio de Janeiro possuem suas lojas). Não estou sendo pago para anunciar a livraria de ninguém, mas um lugar na Internet para comprar livros se você mora fora das capitais ou tem pouco acesso a estas cidades é o site da Forbidden Planet, ou um novo site, RPG Online. Eu nunca usei um sistema desses, e não posso assegurar sua segurança, portanto, se tiver algum problema com isto, não olhe para mim. Bons links de RPG no Brasil e no exterior podem ser encontrados na página Links deste site.

 

 

PS.: Este é um trabalho a ser ampliado. Ele não é definitivo, aliás, nenhuma explicação dada ao RPG pode ser. Portanto, se você tiver alguma dúvida, sugestão ou correção a fazer, escreva-me, e eu farei o melhor possível para resolver seu problema. Agora, sem me prolongar mais, vamos ao Powergame!

 

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